Junho foi escolhido como mês da conscientização sobre lipedema e no Brasil, a discussão é cada vez mais urgente. Mesmo que a primeira descrição tenha acontecido há 85 anos, a condição só foi incluída oficialmente na CID-11, sistema da Organização Mundial da Saúde (OMS) para classificar doenças e outros problemas de saúde em nível internacional, em janeiro de 2022. No entanto, por aqui, ainda é usada majoritariamente a versão anterior, o que impacta o diagnóstico e o tratamento de diversas pacientes. 282p6f
O lipedema é caracterizado pelo acúmulo anormal de gordura em pernas, coxas, quadris e, em alguns casos, no braço, com distribuição simétrica nos dois lados do corpo. Dor e sensibilidade extrema nas áreas afetadas, edemas, facilidade para hematomas, resistência a dietas e, em casos mais avançados, redução da mobilidade são os principais sintomas.
Muitas vezes confundida com obesidade, a doença não tem origem totalmente conhecida. O que os médicos sabem, por enquanto, é que tem forte ligação com fatores genéticos. O tratamento pode ser feito com drenagem linfática, uso de meias de compressão e dietas anti-inflamatórias. Em casos mais graves, recomenda-se a chamada lipoaspiração tumescente.
Diagnosticada com lipedema, a médica Amanda Meirelles (CRM-PR 41310) decidiu transformar a luta em ajuda para mais mulheres. A vencedora do “BBB 23” é uma das sócias da unidade paulista do Celip, o Centro Especializado em Lipedema.
Amanda conversou com o Purepeople, tirou dúvidas sobre a doença e trouxe detalhes da clínica recém-inaugurada. Confira a entrevista a seguir.
Purepeople: O lipedema pode ser confundido com linfedema. Quais sintomas é importante estar atenta para diferenciar?
Amanda Meirelles: O lipedema é uma doença inflamatória crônica que demanda um cuidado constante. É um acúmulo de gordura desproporcional, principalmente nas pernas, que causa dor e nodulações. Já o linfedema é um acúmulo de líquido linfático nos tecidos, por conta de algum distúrbio no sistema linfático. Quem possui lipedema sente dor ao tocar e tem muita facilidade para ter hematomas, já o linfedema, a pessoa sente dor e formigamento no local e uma sensação de peso.
PP: Qual o exame mais indicado para diagnosticar lipedema?
AM: O diagnóstico do lipedema é clínico e deve ser realizado por um profissional capacitado, que pode, quando necessário, solicitar outros exames, como por exemplo, ultrassom.
PP: Por que o lipedema atinge mulheres em sua maioria?
AM: Porque o lipedema tem muita influência hormonal e genética. É muito raro homem ter lipedema.
PP: Muitas vezes, o lipedema é associado a questões estéticas, mas também traz consequências sérias, como a limitação da mobilidade. A longo prazo, o que um quadro de lipedema não tratado pode acarretar?
AM: O lipedema não mata, mas infelizmente pode trazer várias consequências. Além das consequências para saúde mental, que são sérias, pois pode causar ansiedade, depressão e isolamento, o lipedema não tratado pode deixar a mulher com cada vez mais dor ao toque, dificuldade de mobilidade devido ao aumento de volume e claro, um aumento na inflamação.
PP: Você agora encabeça a abertura da unidade do Celip em São Paulo. Conta mais um pouco desse projeto! Você atua como sócia apenas ou também realizará atendimentos?
AA: Eu descobri que tenho lipedema e antes eu não sabia o que era, pois a doença não existia, não estava no rol de doenças. Conheci a Dra. Helô [Dra. Heloise Dall’Ago T. Manfrim, especialista em lipedema] e ela foi um verdadeiro anjo na minha vida, pois me diagnosticou e começamos o tratamento da forma correta. Hoje estou bem melhor! Estou em constante aprendizado e realizei cursos para entender corretamente, até para ar informação da forma correta para meu público. Vi a quantidade de mulheres que não têm diagnóstico ou que nem sabiam o que era a doença. Até porque é algo novo até para os profissionais. Pensando nisso, eu e a Helô resolvemos abrir a clínica para ajudar essas mulheres a terem mais qualidade de vida. Lá, cuidamos da saúde de maneira personalizada para cada mulher. Eu não atuo, mas estou sempre por lá e participo das discussões de caso e atualizações de protocolo, além de, é claro, dar palpite em tudo (risos).
PP: Como o nome indica, o principal foco da clínica é o tratamento de lipedema. O que as pacientes poderão encontrar no espaço?
AA: O atendimento personalizado e interdisciplinar são a base da nossa clínica. Sabemos que cada mulher é única e gostamos de um atendimento integral. Por isso, reunimos vários profissionais especializados de diferentes áreas, como dermatologia, nutrição, nutrologia, vascular e cirurgia plástica para atender de forma única e completa.
PP: Você também sofre com o lipedema. Como a sua própria experiência te inspirou a embarcar nessa empreitada?
AA: Ter o diagnóstico fez toda a diferença para que eu pudesse abrir a clínica. Quanto mais estudo sobre lipedema, mais percebo a quantidade de desinformação que tem na internet sobre isso. Minha missão é realmente propagar o tema e ajudar o maior número de mulheres possível.
PP: Você foi na contramão de outros ex-”BBBs” e, hoje, tornou-se uma influenciadora que compartilha conteúdo informativo sobre saúde. Por que decidiu unir esses dois universos?
AA: Eu sou apaixonada pela medicina, nunca me vi fazendo outra coisa. Quando saí do ‘BBB’, percebi que ficaria difícil atuar, mas não queria parar de cuidar das pessoas. E ao perceber a potência e o alcance que meus conteúdos atingiam, resolvi unir os dois mundos, influenciar saúde com responsabilidade é um desafio, mas é exatamente recompensador. Propagando informações de maneira clara, correta e ível, consigo ajudar muita gente. É isso que me move! Tenho muitos s de pessoas que descobriram doenças de forma precoce por conta de informações que transmiti e isso me deixa extremamente realizada.
